quarta-feira, 30 de abril de 2008

Não há Vagas


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.


Ferreira Gullar


2 comentários:

  1. como sempre, inteligente nas palavras

    vamos mandar esse texto pra eles pra ver se acaba essa poka vergonha no Brasil ;D

    bjS

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  2. vim aki achando
    q vc jah tinha feito algum texto
    novo e vc nessa monguisse de num pod posta hj ¬¬
    ti fala viu

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